MOISÉS COM CHIFRES? O QUE ACONTECEU A MIGUEL ÂNGELO.
Miguel Ângelo e a sua escultura de Moisés com dois chifres
A resposta à pergunta é mais ou menos fácil.Trata-se de um erro
de tradução da bíblia que iremos desenvolver neste artigo. Há dois tipos de
erros na bíblia: os que resultam da tradução de textos em aramaico ( e não só)
e os que foram introduzidos pelos monges copistas propositadamente ou não. Há
casos conhecidos de erros que foram introduzidos pelos monges copistas sendo o
mais famoso o da mulher adúltera prestes a ser apedrejada, cujo episódio nunca
existiu. Segundo especialistas, este episódio foi colocado, por um escriba, no
evangelho de João no século 3. As razões para esta adulteração tem que ver com
a diferença que se procurava estabelecer entre o cristianismo e o judaísmo.
Apedrejar adúlteras é uma das leis que os sacerdotes colocaram no Pentateuco. O
cristianismo procurava a diferença, daí ter construído esta história.
Voltemos aos chifres: Após a conversão do imperador Constantino
foi imperativo tratar da tradução da bíblia para o latim. O homem escolhido
para esta tarefa chamou-se Eusebius Hieronimus, que viria a ser canonizado com
o nome de São Jerónimo. Sob as ordens do papa Dâmaso este senhor viajou para
Jerusalém para aprender hebraico e traduzir a bíblia. Demorou 17 anos. Produziu
a Vulgata que é a bíblia que todos conhecemos.
Ao traduzir uma passagem do Êxodo escreveu "cornuta esse
faceis sua" ou seja a sua face tinha chifres. Ora o problema está na
tradução da palavra Karan que tanto pode significar raio de luz, como chifre. O
bom do nosso Eusebius - o facto de não ser nativo na língua também não ajudou -
avançou com a tradução para chifre em vez de raio de luz, vá-se lá saber porquê
uma vez que até se trata de um erro grosseiro. A tradução correta veio a ser
publicada na Septuaginta, onde se pode ler que o profeta tinha o rosto
iluminado e não chifrado. Há uma diferença grande!
Miguel Ângelo era conhecido por ter uma biblioteca fabulosa com
livros antiquíssimos. O que o levou a esculpir Moisés desta forma? Será que há
alguma mensagem subliminar nesta imagem? Era preciso um nível de cultura muito
grande para saber que este erro de tradução tinha sido cometido. Se Miguel
Ângelo não tivesse esculpido esta peça e assim perpetuando este erro será que
esta história tinha viajado até hoje? Teria sido um erro de tradução ou houve
algo mais nesta história? Talvez um novo livro do Dawn Brawn possa explicar isto.
Já agora prefiro que o José Rodrigues dos Santos pegue no assunto porque o
último livro do Dawn Brawn (Origens) que li foi a pior coisa que li nos últimos
tempos. Senti um alívio enorme quando o vendi por 5€.
Já agora, à laia de despedida, o linguista Eugene Nida chegou,
na década de 60, a traduzir a palavra sestercios (a antiga moeda romana) para
dólares com o objetivo de atrair leitores!
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O ERRO MAIS
FAMOSO DA ARTE OCIDENTAL
A estátua de Moisés do ano de 1515 é uma das esculturas mais
célebres da arte ocidental. Ela retrata Moisés segurando com nobreza as tábuas
da lei depois de descer do Monte Sinai pela segunda vez. Estranhamente, Moisés
tem dois chifres na sua cabeça! Por séculos, milhões de pessoas do mundo
inteiro acreditavam que Moisés - e todos os judeus - tinham chifres na cabeça!
Como isso aconteceu?!
ERRO NA TRADUÇÃO DA BÍBLIA
É um erro causado pela tradução. O versículo que descreve a
descida de Moisés do Monte Sinai descreve sua face e expressão com a palavra
hebraica קרן. Mas esta palavra pode ser lida de duas maneiras diferentes:
"Keren" (קֶרֶן) que significa "um chifre" e
"karan" (קָרַן) que significa "brilhou/estava radiante". Na
verdade, o versículo diz "ele não sabia que sua cara estava radiante
(karan) porque tinha falado com o Senhor"! (Êxodo 34:29)
A SOLUÇÃO: VOLTAR À FONTE
Hoje em dia, os leitores da Bíblia entendem que a palavra karan
deve ser lida metaforicamente para expressar: "sua face brilhou" ou "sua
face projetou raios de luz". Esta famosa obra de arte é apenas um exemplo
das consequências trágicas de traduzir a Bíblia incorretamente. Ao invés de
depender do Português, aprenda o Hebraico original da Bíblia. Recupere hoje o
autêntico e poderoso significado da Bíblia evitando a tradução!
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A Vulgata, Bíblia latina,
que até hoje é o texto oficial da Igreja Católica e foi o alicerce da Igreja no
Ocidente, traduzida por Eusebius Hyeronimus, que mais tarde viria a ser
canonizado com o nome de são Jerônimo. É tão influente, mas tão influente, que
até seus erros de tradução se tornaram clássicos. Ao traduzir uma passagem do
Êxodo que descreve o semblante do profeta Moisés, são Jerônimo escreveu em
latim: cornuta esse facies sua, ou seja, “sua face tinha chifres”. Esse detalhe
esquisito foi levado a sério por artistas como Michelangelo – sua famosa
escultura representando Moisés, hoje exposta no Vaticano, está ornada com dois
belos corninhos. Tudo porque Jerônimo tropeçou na palavra hebraica karan, que
pode significar tanto “chifre” quanto “raio de luz”. A tradução correta está na
Septuaginta: o profeta tinha o rosto iluminado, e não chifrudo. Apesar de erros
como esse, a Vulgata reinou absoluta ao longo da Idade Média – durante séculos,
não houve outras traduções.
30.E, tendo-o visto Aarão e todos os israelitas, notaram que a
pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele. Ex
34:30
Fonte: http://www.bibliacatolica.com.br/01/2/34.php
E vendo Arão e todos os filhos de Israel que brilhava a pele do
rosto de Moisés e temeram em se aproximar. Ex 34:30
30 Quando Arão e todos os filhos de Israel chegaram a ver
Moisés, ora, eis que a pele da sua face emitia raios e eles ficaram com medo de
se aproximar dele. Ex 34:30
Pesquisando, descobri que a raiz desse mistério está numa
tradução errada feita por São Jerônimo de
Êxodo XXXIV, 29:
Quando Moisés desceu a montanha do Sinai, trazendo nas mãos as
duas tábuas do Testemunho, sim, quando desceu a montanha, não sabia que a pele
de seu rosto resplandecia porque havia falado com Ele.
Ele se equivocou quando verteu o versículo para o latim,
traduzindo raios de luz (o resplandecimento) por chifres de luz, já que a
palavra hebraica karan pode significar raios ou chifres.
Esse é um erro que pode ser cometido com certa facilidade, como
está explicado no seguinte vídeo:
Por outro lado, vale notar que o "chifre" não é um
símbolo destituído de significado para o catolicismo, como explicou o confrade
Otávio:
Na verdade, ao contrário do que se pensa, o chifre tem uma
importância fundamental para o judaísmo, cristianismo e outras religiões
pré-cristãs não apenas pelas representações plásticas, mas também,
semioticamente (pois trata de um símbolo) e filologicamente, o que nos ajuda a
entender um pouco o sentido dele na Sagrada Escritura (tarefa árdua, pois, de
acordo com um levantamento que fiz, a vasta ocorrência do(s) chifre(s) revela
uma importância dificilmente encontrada em outros elementos culturais.
O desapreço estético contra a presença dos chifres na arte
cristã se dá pela distância histórica que temos em relação à concepção que os
antigos atribuíam ao elemento visual. Portanto, como vivemos em uma época em
que o "chifre" possui conotação perjorativa (demônio, vítimas de
infidelidade etc.), há uma repugnância imediata por parte dos não iniciados nos
estudos da cultura semítica.
Acredito que os confrades já resolveram a questão, mas posso
contribuir com algo, mesmo sendo redundante em muitos aspectos. Julguei
pertinente separar minha postagem por tópicos, para garantir uma melhor
organização das ideias:
1) Comentário bíblico da tradução da Vulgata em Ex 34, 29-35
2) A luz, como símbolo antropológico e religioso do conhecimento
superior
3) A importância do chifre na cultura dos povos da Antiguidade
4) A importância do chifre na Sagrada Escritura
5) Considerações sobre o chifre enquanto representação na arte
cristã
6) Conclusão
7) Bibliografia
1) COMENTÁRIO BÍBLICO DA TRADUÇÃO DA VULGATA EM Ex 34,29-35
Na Bíblia do Peregrino (2006, p. 170), Luís Alonso Schökel faz o
seguinte comentário:
"34,29-35 Moisés se expôs à luminosidade esplendente, a
glória do Senhor, e a luz o transfigurou sem que ele o notasse. Seu rosto
tornou-se luminoso, com luz refletida. Tudo o que diz é ressonância de Deus, do
mesmo modo que sua luminosidade é reflexo de Deus. O esplendor é como um halo
que emoldura o oráculo e o mediador. O fenômeno se repetirá, não já na
montanha, mas na tenda do encontro."
Que nos parece? Schökel não parece ter interesse na questão das
representações artísticas, mas somente no texto em si mesmo e expõe uma
teologia bíblica interessante. Por mais que Moisés fosse como um de nós
("imagem" e semelhança de Deus, como em Gn 1,26), sua exposição à
santidade e presença de Deus o fez ainda "mais semelhante". Tal
atestado, apesar de desconcertante à primeira vista, pode ser associado à
própria vida dos santos: sua adesão à Deus era tal que faziam milagres, curavam
doentes, se "transportavam" de um lugar para outro como Jesus, se
resplandeciam de luz, como luz do mundo etc. Como? Para quem intensifica o
contato com o próprio Deus, intensifica também sua semelhança.
Como Deus é "luz", o contato de Moisés com Deus e sua
exposição à luz divina, refletiu o que Deus é nele mesmo: LUZ!
O verbo "resplandecer", que ocorre somente neste
capítulo, é um denominativo do substantivo "clarim". A Vulgata traduz
por cornuta ("chifre" em latim), que posteriormente tornou-se a fonte
das representações artísticas de Moisés com chifres em sua cabeça. Richard J.
Clifford (2007, p. 159) comenta que, na realidade, o brilho em sua face
expressa seu lugar privilegiado como servo íntimo de Yahweh, o que confirma a
dissertação de Schökel.
2) A LUZ, COMO SÍMBOLO ANTROPOLÓGICO E RELIGIOSO DO CONHECIMENTO
SUPERIOR
Partimos agora, de uma breve exposição semiótica da luz como
símbolo.
Considerada do ponto de vista do homem, a luz pode lembrar
também todo o campo do conhecimento. A metáfora toca de certa forma o símbolo
quando o conhecimento em questão provém do Senhor. Nesse campo, podemos
distinguir três níveis de simbolização: aprendizado da Lei, mistérios do mundo
criado, e os mistérios do mundo incriado. O caso de Moisés situa-se no segundo
nível.
1º O primeiro é o do
aprendizado da Lei, entendida não no sentido estreitamente comportamental, mas
na perspectiva global da experiência religiosa da aliança. O conhecimento
prático do agir correto, todo sapiencial, se adquire pelo contato assíduo com a
Lei escrita, que é Palavra de Deus: ela é uma “luz imperecível” (Sb 18,4), que
ilumina o caminho do justo, cf. Sl 119,105.130. Também em Eclo 24,32; 50,29 na
versão da Septuaginta (o texto hebraico é diferente); Sb 5,6; Is 2,5 (cf. v3);
5,20; 26,9 (somente na Septuaginta); 51,4; Os 10,12 (cf. Septuaginta); Br 4,23.
Em Rm 2,19, Paulo critica os judeus que, invocando a Lei, se tomam pela “luz daqueles
[que estão] nas trevas”, i.é., no fundo, como porta-luzes.
Pela lógica da expressão, essa luz divina, guia da moralidade,
não é interior, mas brilha diante dos olhos do homem (cf. Sl 19,9), embora o
lugar de assimilação da Palavra só possa ser o coração. Por isso, no caso, a
expressão pertence mais ao símbolo (i.é., ao campo simbólico) do que à
metáfora.
2º O segundo nível é o dos mistérios do mundo criado,
inapreensíveis para o comum dos mortais. Esse conhecimento, sapiencial também,
provém, contudo, de uma iluminação do coração de origem transcendente. Daniel,
penetrado do “sopro do Deus santo”, possui “luz, inteligência e sabedoria como
a sabedoria de Deus” (Dn 5,11.14; cf. também 2,22). Os três termos, sinônimos
(hendíadis), situam claramente o conhecimento do jovem no registro da ciência,
se bem que se trate de ciência infusa. Por isso, a metáfora se abre mais para o
símbolo. O caso de Moisés, o sábio, o homem da Lei por excelência, tão
transformado por seu encontro com o Senhor que, segundo a tradição recebida,
sua iluminação interior transparecia por fora: “a pele de seu rosto brilhava”,
de modo que ele teve de cobri-lo com um véu (Ex 34,29-30.34-35).
3º Só o NT atinge o terceiro nível, que diz respeito aos
mistérios do mundo incriado. Também esse conhecimento provém de uma
“iluminação” de origem divina, mas não tem nada em comum com a sabedoria deste
mundo. Trata-se do dom da fé, o qual “ilumina os olhos do coração” do homem,
para que chegue ao conhecimento profundo do desígnio divino de salvação em
Jesus Cristo (Ef 1,18; também de acordo com 2Cor 4,6; 2Tm 1,10). Disso decorre
a responsabilidade da evangelização: o crente deve tornar-se, por sua vez, “luz
do mundo” (cf. Mt 5,14-16; Fl 2,15-16), porque o verdadeiro conhecimento só
pode irradiar-se de corações iluminados.
3) A IMPORTÂNCIA DO CHIFRE NA CULTURA DOS POVOS DA ANTIGUIDADE
Na Antiguidade (LURKER, 2006, p. 51), os povos consideravam o
chifre, enquanto arma de ataque e defesa, como símbolo de força física e poder
supra-humano. No Egito antigo, os chifres, em ligação com a coroa, serviam
muitos deuses como adorno da cabeça e eram considerados pelo povo simples como
súmula do terror que cerca o sobrenatural. Faz-se relação simbólica especial
entre chifre e sol.
Figuras rupestres do norte da África mostram carneiros e búfalos
que trazem a esfera do sol entre os chifres. A deusa do céu Hátor traz na
cabeça o chifre de rez com a esfera do sol. Na arte da mesopotâmia antiga, as
divindades são ornadas com a coroa de chifres, como que símbolo de seu poder
supraterreno. Na época do helenismo, governantes faziam cunhar sua imagem com
testa coroada de chifres em moedas.
Os animais portadores de chifres em larga escala são
considerados como símbolos de fertilidade. Assim, também o chifre é sinal de
abundância (cornucópia), da hospitalidade, da generosidade, da paz e da
esperança; em representações das partes do mundo é símbolo da Europa e da
África. Segundo o Dicionário dos Símbolos: imagens e sinais da arte cristã
(HEINZ-MOHR, 1994, p. 96), também é atributo do profeta Jonas e da Sibila
délfica.
4) A IMPORTÂNCIA DO CHIFRE NA SAGRADA ESCRITURA
O chifre é antigo símbolo da excelência, da elevação e do poder.
Assim, a Bíblia fala do "chifre da salvação". (1Sm 2,1; Sl 18,3;
148,14; Lc 1,69; Ap 5,6: o cordeiro com sete chifres) e conhece a unção régia
com óleo do chifre. Por isso, na Bíblia, o chifre é sinal de poder e força. O
Senhor faz para o seu povo chifres de ferro e cascos de bronze, para que ele
esmague numerosos povos e consagre a Yahweh os seus despojos (Mq 4,13). Aos
piedosos Deus ergue o chifre (Sl 92,11), expressão eloqüente para dizer a graça
de Deus. Quem teme a Deus e anda de acordo com seus mandamentos, a "sua
força se exalta em glória" (Sl 112,9).
Enquanto o Senhor ergue o chifre do seu povo (Sl 148, 14),
abater-se-á o chifre de Moab (Jr 48, 25), ou seja, o seu poder será
desbaratado. "Ele corta o chifre dos ímpios, mas o chifre do justo será
erguido" (Sl 75,11). O próprio Senhor é designado, no cântico de ação de
graças depois de batalha com êxito, como chifre de salvação (Sl 18,3). Como
sinal especial de poder divino de bênçãos eram considerados os chifres de metal
dos quatro cantos do altar dos perfumes da Tenda da Reunião (Ex 27,2; 30,2).
Também junto do altar dos holocaustos que estava no templo
salomônico "se levantavam quatro chifres" Ez 43,15). Aspergindo os
chifres com o sangue dos animais sacrificados se queria indicar a doação de
vida a Deus de modo particular. Já Aarão e seus filhos receberam, por ocasião
de sua consagração como sacerdotes, a ordem: "Tomarás parte do sangue do
bezerro e com o dedo o porás sobre os chifres do altar" (Ex 29,12).
Terrível castigo é quando o Senhor corta os chifres do altar e estes caem em
terra (Am 3,14). Quando um acusado, fugia para o templo e tocava nos chifres do
altar, colocava-se sob a proteção de Deus e era salvo — caso não tivesse
cometido nenhum crime premeditado (1Rs 1,50-53).
Com apoio nos salmos diz-se em Lucas: "Bendito seja o
Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e suscitou-nos um
chifre de salvação na casa de Davi, seu servo" (Lc 1,68ss). O Cordeiro
apocalíptico "tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete Espíritos
de Deus enviados por toda a terra" (Ap 5,6). Os sete chifres do cordeiro são
símbolos da onipotência de Cristo. Em contrapartida, os dez chifres do grande
Dragão vermelho (Ap 12,3) expressam a maldade satânica, que por fim vai se
desmascarar como impotência.
5) CONSIDERAÇÕES SOBRE O CHIFRE ENQUANTO REPRESENTAÇÃO NA ARTE
CRISTÃ(1)
Na semiótica da arte cristã, entra também a ideia simbólica dos
chifres que Moisés trazia ao vir de novo para junto do povo depois do encontro
com Yahweh no Sinai, irradiante um poder espiritual quase atemorrizante, como
já comentei em Ex 34,29.35.
Não obstante termos aí uma falsa maneira de ler texto bíblico
latino que se acha na base dessa interpretação¹, pode-se reconhecer e é
legítima a interpretação simbólica que lhe subjaz.
De acordo com Heinz-Mohr (1994, p. 97), tanto Boticelli como
Signorelli optaram em suas imagens de Moisés (ambas na Capela Sistina do
Vaticano) por feixes de raios em vez dos chifres, e também Jan Gossaert
(Kunsthistor: Museu de Viena), mas isso não significa que outros artistas
tenham representado os chifres conscientes de seu significado (o que não fere o
simbolismo usado na arte e na fé católica).
O chifre como instrumento de sopro encontra-se também em anjos
do Juízo Final e como atributo de São Brás e São Cornélio, ambos os casos com
base em jogo de palavras (no alemão, blasen = soprar e no francês, cor). Um
chifre de caçador portam São Eustáquio, São Humberto e São Osvaldo.
No entanto, recorrendo às antigas configurações, também o diabo
recebeu na arte e na fé popular uma série de traços animalescos, entre os quais
sobressaem os chifres que frisam o poder do mal (daí a repulsa de muitos em
aceitarem os chifres na arte cristã de bom-grado, por causa da sua associação
com o retrato do demônio).
Mas, de todas as representações de Moisés ornado de chifres, a
mais conhecida é mesmo a escultura de Michelângelo (que, no caso dele,
reproduziu erroneamente Moisés por ter-se se servido da tradução latina da
passagem bíblica hebraica de Ex 34,29ss). Como já foi exposto alhures, não eram
chifres que saíam de sua face (facies cornuta), mas raios (facies coronata).
6) CONCLUSÃO
Sabemos, portanto, das qualidades simbólicas que, tanto da luz
quanto do chifre, serviram para transmitir mensagens teológicas importante para
nós e para os povos de todas as épocas que esses elementos estiveram presente.
Mesmo assim, não podemos e nem devemos depreciar as várias
representações de Moisés com chifres, seja na pintura, seja na escultura, pois
a configuração artística deste equívoco da Vulgata fala, porém, tanto mais da
força de expressão do antigo símbolo, pois que se acreditava reconhecer no fato
dos chifres de Moisés a força transmitida a ele por Deus.
7) BIBLIOGRAFIA
Esta é uma bibliografia básica e não tem a intenção de ser
exaustiva, muito menos de abordar todas as vertentes semióticas, filológicas,
artísticas ou exegéticas que o tópico suscita. A quem se interessar, pode
consultar as referências que os autores abaixo se serviram para maior
aprofundamento.
BÍBLIA. Português. SCHÖKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino.
Trad. Ivo Storniolo; José Bortolini. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2006. p. 170.
CLIFFORD, Richard J. Êxodo. In: BROWN, R. E.; FITZMYER, J. A;
MURPHY, R. E. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São
Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2007. p. 159.
GIRARD, Marc. Os Símbolos na Bíblia: ensaio de teologia bíblica
enraizada na experiência humana universal. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2005. p.
148.
HEINZ-MOHR, Gerd. Chifre. In: ______. Dicionário dos Símbolos:
imagens e sinais da arte cristã. Trad. João Rezende Costa. São Paulo: Paulus,
1994. pp. 96-97. (Série Dicionários)
LURKER, Manfred. Chifre. In: ______. Dicionário de Figuras e
Símbolos Bíblicos. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2006. pp. 51-52. (Série
Dicionários)
_______________
¹ Que traduziu os raios, de que o texto fala, por
"chifres" — facies cornuta em vez de facies coronata — um erro que só
foi corrigido pelo Concílio de Trento no séc. XVI e até então marcou as
representações de Moisés até o Moisés de Claus Steler na fonte da Kartause Champmol
(fins do séc. XIV) e a imponente representação de Michelângelo no mausoléu do
papa Júlio (S. Pedro in Vicoli, Roma).
Naturalmente que lá na comunidade os dons e conhecimentos de
cada um são diferentes, de modo que tive de perguntar a Otávio qual seria um
conceito de semiótica. Ele, sempre solícito, respondeu o seguinte:
Várias são as definições de semiótica. As mais conhecidas são:
1) "A semiótica é a ciência dos signos e dos processos
significativos (semiose) na natureza e na cultura" (NÖTH, 2003, p. 17);
2) É a "ciência dos signos" (SANTAELLA, 1983, p. 7;
SANTAELLA, 2008, p. XI);
3) "É a ciência geral de todas as linguagens"
(SANTAELLA, 1983, p. 8) ou
4) É a ciência geral "de toda e qualquer linguagem"
(SANTAELLA, 1983, p. 10).
Etimologicamente, o termo Semiótica provém do grego Σημειωτικός
(Sēmeiōtikós, numa transliteração mais exata) e é a junção de dois outros
vocábulos: σημεĩον (sēmeĩon) que quer dizer “signo” (NÖTH, 2003, p. 21;
SANTAELLA, 1983, p. 7) ou Σημα (Sēma-), um radical que tem por significado
“sinal”, que pode ser traduzido por “signo” também (NÖTH, 2003, p. 21) e ωτικός
(ōtikós = ótica).
Infelizmente, nem sempre, no decorrer da história da semiótica,
houve consenso sobre o uso da sua etimologia (NÖTH, 2003, p. 21-22). De acordo
com Winfried Nöth (2003, p. 21), a palavra Semio- é “uma transliteração
latinizada da forma grega semeîo-, e os radicais parentes, sema(t)- e seman-,
têm sido a base morfológica para várias derivações de vocábulos que dão nome às
ciências semióticas” (NÖTH, p. 21).
Mesmo que existam duas formas etimológicas para designar a mesma
ciência semiótica — semeiotica e semeiologia, segundo Nöth (2003, p, 21), assim
como hoje também é conhecida sua forma plural em inglês Semiotics que “é de
origem relativamente recente” (NÖTH, 2003, p. 22), também houveram
etimologicamente vocábulos distintos que precederam os descritos acima, “tais
como semiologia, semântica, sematologia, semasiologia, semologia, além dos
termos usados por Lady Welby: sensifics e significs” (WELBY apud NÖTH, 2003, p.
21).
Apesar de Charles Sanders Peirce (1839 – 1914) ser o filósofo
cuja obra percorreu “todas as áreas da filosofia e, além disso, quase todas as
ciências do seu tempo” (NÖTH, 2003, p. 60), e que — sozinho — dialogou com “25
séculos de tradição filosófica ocidental” (SANTAELLA, 1983, p. 27), ele nunca
usou o termo plural inglês semiotics (NÖTH, 2003, p. 22) para designar a
“ciência de toda e qualquer linguagem” (SANTAELLA, 1983, p. 10), preferindo –
ao invés disso – vocábulos como semeiotic, semiotic e até semeotic (NÖTH, 2003,
p. 22).
Então, basicamente a semiótica é a ciência que se dedica ao
estudo geral de todas as linguagens e processos significativos. E eu a uso
aplicada à arte cristã e à exegese católica.
__________
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
NÖTH, Winfried. Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. 4ª
ed. São Paulo: Annablume, 2003.
SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense,
1983.
______. Semiótica Aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried. Imagem: Cognição, semiótica,
mídia. 4ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2005.
Uma curiosidade sobre C. S. Peirce:
Ele é meu semioticista predileto, pelas razões que expus acima,
e também o é de intelectuais contemporâneos, como o alemão W. Nöth e a
brasileira Lúcia Santaella. Peirce é o mais completo dos semioticistas, pois
seu sistema categorial triádico classifica todos os tipos de signos em apenas 3
classes fenomenológicas, proeza esta perseguida por filósofos como Aristóteles,
Santo Agostinho e Kant.
Esta alcunha de “filósofo”, como também de “cientista”, é
atestada por Max H. Fisch (apud SANTAELLA, 1983, p. 26) e por Santaella (1983,
p. 22, 24), apesar dele não ter sido reconhecido em seu tempo nem por filósofo,
nem como cientista (SANTAELLA, 1983, p. 24), mas somente após a sua morte
(SANTAELLA, 1983, p. 24).
https://lopezio.blogspot.com/2019/11/moises-com-chifres-o-que-aconteceu.html
http://lp.eteacherbiblical.com/
https://parafraseandoaverdade.wordpress.com/2011/06/30/moises-do-antigo-testamento-com-chifres/
http://infotruenews.blogspot.com/2013/09/religiao-os-de-moises.html
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